Nem mesmo Nostradamus preveria tal situação: o manda-chuva do futebol brasileiro, presidente da CBF e do COL – Comitê Organizador Local da Copa -, que ocupava há 23 anos o cargo máximo, caiu. Renunciou. Depois de dois Mundiais conquistados – 1994 e 2002 – entre outros títulos -, perdeu para a opinião pública e para a política da presidente Dilma Roussef.
Por motivos de saúde alegados em nota oficial, Ricardo Teixeira fez a felicidade dos críticos, e da Rede londrina da tevê BBC, que preparou um documentário para revelar o sistema de compras de votos para a eleição das sedes de Copa do Mundo e da falência da empresa ISL*, ao renunciar e findar uma dinastia tão categorizada como adversa aos interesses do futebol brasileiro.
O ex-presidente cebeefiano se imaginava onipotente e que seria exaltado por tal proeza. A soberba é um dos pecados mais comuns, difícil de se notar em meio de tanto poder. E o nível alcançado pelo parasitismo, que o caracterizou, foi contra-golpeado pelo povo. Nos últimos jogos da Seleção, e por diversas manifestações populares que pediam dignidade no comando do principal esporte nacional, Ricardo Teixeira padeceu e sucumbiu. Reflexo nos novos tempos, da mobilização social e digital. Tantos foram os votos contra pelo Twitter do baixinho Romário, seu herói de 94, que tomar partido foi fácil. É parcial meu voto por renovação.
Se o interesse é pelo bem do futebol, e é, que não volte. Enfim, um câncer extirpado. Até mesmo seu ‘aprendiz’ a substituto, Andrés Sanchez( ex-presidente do Corinthians, responsável pela nova guinada do clube, e gestão no futebol brasileiro, e por ser famoso em sua postura entre populista e falastrona, é favorável a uma troca de comando em sistema democrático, como uma vez disse a mim em entrevista.
A um ano e meio de realizar a Copa, o fato da saída de Ricardo Teixeira não é para gerar temor. Pelo contrário, é sinal que o compromisso com a responsabilidade culminou em um bem maior para o país, e não para o comodismo e bolsos alheios.
O mais velho vice-presidente assumiu, José Maria Marin, no auge dos seus 80 anos, e tem a chance de colocar a cereja e saborear a bola, ou melhor, o bolo se tiver boa vontade. A entrada de Ronaldo no COL alivia, mas longe de ser a solução.
* – Em maio do ano passado, a rede britânica BBC, em reportagem do jornalista Andrew Jennings, trouxe a informação de que o ex-presidente da Fifa João Havelange e Teixeira receberam US$ 9,5 milhões em propinas da ISL para garantir contratos de exclusividade em transmissões e patrocínios da Copa do Mundo.